sábado, 13 de março de 2010

Além do Umbigo

Empatia:
Tendência para sentir o que sentiria caso estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por outra pessoa.


Há certos dias (ou tardes ou noites) em que é muito difícil ser e estar. O “to be or not to be” deve ter sido dito num dia desses...

Há momentos em que se olha para os lados e só se vê a si mesmo como num quarto de espelhos. Nada a ver com narcisismo, mas com isolamento. Provocado ou não, consequência dos próprios atos ou não, isso não importa no momento exato em que se sente a ausência afetiva dos outros. De nada adianta reclamar de que se deveria ter feito a revisão no carro quando ele está quebrado no meio da avenida. Talvez a ausência de reforço positivo, apoio, palavra amiga, solidariedade não seja o pior dos mundos nessas horas. Creio que é bem pior quando se está só com gente por perto. Mas dá para ser ainda pior: estar isolado, com pessoas conhecidas por perto e que ainda se posicionam contra a gente. É quando se procura apoio, por menor que seja, e se encontra todos lhe mandando bala, seja diretamente ou com piadinhas e comentários. Por que temos sempre de entender o “semelhante”, mas este não nos entende e nem se esforça para tal?

A grande maioria das pessoas não consegue ver além do próprio umbigo. Ainda se fosse o umbigo alheio... Mansamente mandam recados através de palavras e situações suaves ou “engraçadas”, mas que contém uma carga de crítica próxima ao fuzilamento. Talvez em outros tempos e lugares fosse suficiente para uma guilhotina com requintes de sadismo. Coisas como: “Olha só como ele é malandro...” seguido de risos. Ou então: “Ele repete tanto as coisas que parece drogado...” seguido de risos. Falta o exercício constante da empatia.

Essas situações são entediantes para não dizer deprimentes. Mostram um desnível entre as partes. De um lado alguém que não sabe contextualizar as coisas e não tem o menor trato com o outro, apesar de pensar que tem. É aquele ponto em que a pessoa não consegue fazer uma lista com seus cinco defeitos principais. Faça esse teste: pergunte para alguém quais são seus cinco defeitos. Talvez você ouça coisas do tipo: “Ora, são tantos que nem sei por onde começar...” (expondo a falsa modéstia). Ou um silêncio profundo, pois a pessoa não consegue identificar seus próprios defeitos, mas sabe enxergar o dos outros. Defeito número um já identificado!

O caldeirão começa a ferver quando você está com a razão e ouve que você está errado ou que não sabe fazer isso ou aquilo, mesmo que você o faça ao longo dos últimos trinta anos. Não se incomode tanto, pois provavelmente você está diante de um medíocre. Alguém que pensa ter passado de algum limite intelectual porque leu dois ou três livros da moda (ou só a orelhas deles) ou porque desenvolveu a capacidade de persuadir para garantir a sobrevivência da sua pequenez. Pessoas que vão sempre tentar nivelar por baixo bastando para isso uma oportunidade.

Seja qual for a situação de isolamento em que você esteja, respire fundo e pense que poderia ser ainda pior. É o jogo do contente. Uma alternativa é polir as ferraduras e colocar alguns nos devidos lugares. Outra pode ser deixar todos como estão e mudar você de lugar. Ou de ser e estar.


Mano Jone