sábado, 25 de dezembro de 2010

Felicidade

O Natal me traz muitas recordações.  Lembro de meus pais, meu irmão, da montagem da árvore cheia de enfeites com formatos diferentes, luzinhas coloridas e toda magia envolvida.  Presentes e a família reunida na véspera e no almoço do dia do Natal.  Conversas, música, risos, alegria e um clima inexplicavelmente ótimo.  Era muito bom mesmo.

O mais importante de tudo é que havia o sentimento gostoso de estarmos juntos compartilhando momentos únicos, aquela emoção tão esperada o ano inteiro.  Quanta saudade...  Eu era tão feliz.

Mano Jone

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O capitalismo, o sono, a ignorância e a falta de educação.

É impressionante como algumas pessoas se incomodam ao saber que o outro está dormindo. Esse outro pode ser qualquer um.  Os incomodados têm perfis variados, mas todos são vítimas e disseminadores da ideologia capitalista.  Esses verdadeiros guardiães da vigília eterna são os mesmos que sempre ouviram que “o trabalho dignifica o homem”, “Deus ajuda quem cedo madruga” ou outras baboseiras para que as pessoas trabalhem mais e gerem mais lucro.  O tempo de descanso para o capitalismo seria de, no máximo, oito horas e no local de trabalho, pois sabe como é, pode ser necessária alguma coisa de madrugada e o guerreiro já está lá.  Na maioria são pessoas que acordam cedo e só. Administram mal seu tempo durante o dia, chegam a se arrastar no trabalho ou qualquer outra atividade, mas estão acordadas.  Há lugares onde o sujeito é mau caráter, bate na mulher, é grosseiro, mulherengo, mas uma voz diz “Ele é tudo isso, mas é trabalhador”.  Palavra mágica que cala a todos e transforma o “coisa-ruim” num cidadão respeitável.  Pense na situação: você está em casa e alguém aparece ou telefona e desfere sem cerimônia ou educação a pergunta: “você estava dormindo?”  A resposta é quase sempre um não.  As pessoas dormem escondidas como se fosse um vício repugnante.  Como fumar escondido no banheiro.  As pessoas mentem que estão acordadas, dizem que já fizeram um monte de coisas e ainda são oito da manhã.  A pessoa diz tudo isso porque não quer ser taxado de dorminhoco e, na sequência, de vagabundo, relapso, irresponsável.  Dormir pode sim, mas das dez da noite até as cinco ou seis da manhã.  Os vigilantes do sono dão um desconto de uma ou duas horas se for um domingo ou feriado, afinal a pessoa trabalhou muito.  E é isso aí: vive-se para trabalhar quando o certo deveria ser trabalhar para viver.  Gente chata e ignorante, pois não percebe que foram bitoladas e alienadas na ideologia capitalista mais básica.  Longe de mim fazer apologia à vadiagem, até porque não tem nada a ver uma coisa com outra, mas há relógios biológicos diferentes e o mais importante de tudo: ninguém tem nada a ver com o que o outro faz de sua vida.  Um vigilante do sono normalmente tem necessidade de rotular alguém como dorminhoco ou coisa parecida, pois precisa mostrar ao mundo que ele sim está sempre alerta (tal um escoteiro).  Precisam gritar para o mundo que andam o dia inteiro fazendo coisas.  Observe um ser desses.  Podem até fazer muitas coisas, mas nem sempre certas e nem sempre da melhor forma.  Eles têm pavor do julgamento do outro.  Já vi caso em que antes até de o sujeito falar bom dia, já solta a crítica: “você estava dormindo até esta hora?”.  É invasivo.  É falta de educação.  É ignorância.  É insegurança.  É a necessidade de rotular a si próprio, através da rotulagem do outro.  É uma chatice.

O mundo avançaria muito se cada um cuidasse da própria vida.  Infelizmente, muitas pessoas não conseguem ver seus defeitos e, portanto, não precisam se melhorar.  Para isso basta apontar algo que considera errado no outro, afinal o bom só existe quando comparado ao ruim; o honesto ao desonesto e assim por diante até chegar ao que exerce seu livre direito de dormir e o ignorante que precisa ser reconhecido como alguém que “faz”.


Xô gente chata e inconveniente!  E como diria a Colombina: “Pierrô cacete, vai tomar sorvete com o Arlequim”.   Entendeu, né?


 
Mano Jone

domingo, 5 de dezembro de 2010

Nego Bom e Bel

Aquele ruído era conhecido por todos. Era Nego Bom descendo a ladeira do Barbalho com sua moto. Rapaz de seus vinte e poucos anos, alto, com uma barriga tanquinho adquirida na adolescência carregando botijão de gás nas costas para fazer um troco. Nego Bom era conhecido da Ponta de Humaitá até Itapuã como fera na moto. Nome de batismo: Bonifácio Charles da Silva. Ele não fazia o tipo pegueteiro, mas tava sempre na área e se derrubar... já sabe.

Nego Bom não largava sua arabaca toda armengada. Todo mundo sabia que ele perderia um amigo, uma mulher ou até mesmo a mãe para salvar aquela moto. Aliás, ela foi comprada com muito trabalho na própria oficina onde ele trabalhava como mecânico de motos.

Nego Bom estava ficando com Bel, uma galeguinha bonita, tipo mulher-gata mesmo. A relação dos dois era meio vai-não-vai e sem saber para onde vai. Quando Bel apertava a mente de Nego Bom para ele se definir, o sacrista tirava de tempo e partia para um interminável jogo de sedução. Esse rolo vinha se arrastando há tempos e Bel já estava meio agoniada. Os dois se curtiam, mas nada oficial.

Nego Bom era chegado numa sinuquinha onde ia derrubar umas bolinhas, bebendo uma breja ou água-dura com os colegas. Bebendo, porque “baiano não toma”, como ele dizia. Isso acontecia toda semana num moquifo perto do Mercado Modelo. O ambiente era típico do barzinho de bilhar: uma mesa de “sinúquer” tipo mata-mata com o pano gasto e com um rasgo na ponta, os tacos tortos, a TV ligada no Baêa, um ou ouro maluco passando um “tóchico”, os dois bêbados de sempre e algumas piriguetes na área. Sempre rolava uma apostinha básica entre os colegas. Quem perdia pagava a breja e coisas tipo isso, até porque a grana era regrada. Além do mais, Nego Bom era bom no jogo e sempre tirava uma onda da galera. Lá pelas tantas, um colega que havia perdido várias partidas, estava a fim de aliviar o prejú. Lançou o desafio para Nego Bom:

- Aê, mermão! ‘Bora um tudo ou nada?
- Colé de mermo?
- Assim ó: se eu ganhá fico com tudo. Se tu ganhá, pago em dobro.
- Cole, véi! Que onda... Vou nessa não. Ainda se tu botasse a gata na parada...
- Demorô, véi. Essa piri já tá gasta.

Como era de se esperar, Nego Bom deu de lavada no colega. Mas tudo de boa. Não tinha essa de cara feia e pau viola. Todo mundo fica ali ouvindo o pagode junto misturado com a TV, sentado, bebendo uma e, agora, Nego Bom com a piri no colo, quase rolando um lance básico. Mas mulher é brincadeira? Umazinha que andava de butuca em Nego Bom, mandou um torpedo para Bel botando a maior pilha:

“Teu Nego Bom tá todo tirado co a vagaba, tirando onda e as porra no bazinho do Bira”

Não deu outra: Bel desceu para a sinuca, chegou na cocó e viu a cena toda. Mas segurou a onda. Ficou na dela. Nego Bom se ligou, tirou a piri do colo e foi falar com Bel:

- E aê, minha linda?
- Me deixe, seu descarado.
- Oxi?! Descarado o que, rapaz?
- Porra, chamei você pra ir ali comigo e você não quis para ficar na descaração com essa aí, né?
-Ói, não rolou nada com a piri.
- Colé mermo Nego Bom e besta, quer me comediar é? Eu vi a parada.
- Viu o que rapaz? Viu o quê? Ai, ai... Viu o quê? Os colega zuando? Ai, ai...
- Ói, me deixe vu! Se saia!

A conversa acabou aí, porque Bel foi embora como se diz: “virada na porra”. Mas ela tava mais decepcionada do que brava. No fundo ela gostava mesmo de Nego Bom. Ela estava a fim de ficar com ele, de namorar sério. Os dois sabiam disso, mas ninguém chegava com esse papo. Faltava iniciativa. Faltava coragem... Esse rolo entre Bel e Nego Bom não desempatava. Ele passava fazendo zuada com a moto e ela virava a cara. Ele ria, tipo “tô de boa”.

Bel estava a fim de se valorizar mais, de despertar algo mais em Nego Bom para ver se ele se decidia. Ela ainda não tinha digerido a história da piriguete na sinuca. Passados alguns dias, Bel soube que ia ter um pega na Avenida Contorno. Soube, ainda, que Nego Bom ia lá se amostrar tirando onda com sua moto e sua habilidade em pilotar. Bel logo se interessou em participar desse racha, mas dando uma lição em Nego Bom só para ele baixar o topete. Não deu outra, Bel foi falar com Carlinhos Buiú, que sempre foi a fim dela, para propor um desafio:

- Buiú, quero escaldar Nego Bom.
- Oxi! Qual foi? Você da mole pro cara que eu sei.
- Oxi! Feche a cara! Eu sou piriguete é? Sim, e aí? Vai ou não vai?
- Adianta o lado.
-Niuma. No pega de sábado oito horas, você vai correr também e ganhar do cara.
- Rapaz, o cara é bom. Ele apavora. Posso até ir, mas ganho o quê?
- Tu parece nó cego, véi. Tu vai ganhá dele. Vai virar o cara.
- Até parece... Ói o esparro... Se ligue: se eu ganhá a gente fica. Já é ou já era?
- Já é.
- Ta rebocado! Eu vou ganhar véi.

Buiú mandou recado para Nego Bom, que não desconfiou de nada. Os dois tiveram uma semana para preparar suas motos, afinal aquilo seria um grande evento. Chegado o sábado à noite, alta madrugada, depois de vários pegas entre os malucos, a galera do mal estava esperando o grande show. Era Nego Bom contra Buiú. A pista ia do Solar do Unhão até o Elevador, uns trezentos metros de muito perigo. Coisa pra macho. Motores roncando fazendo muita zuada, área liberada, as duas motos perfiladas e alguém deu o sinal da partida. Os dois motoqueiros abriram o gás, sem medo de nada, arrepiando mesmo. Como era de se esperar, Nego Bom levou a melhor. Levou o pega e continuou com a fama de “bolo doido”. Bel se picou injuriada com uma ponta de raiva e de orgulho tudo misturado. Ela não contou conversa e foi tirar satisfação com Carlinhos Buiú:

- Porra, véi, você é fraco mermo né? Deu caruara, foi?!
- Qual foi? Tá maluca é?
- Num to cumeno seu reggae.
- Se saia,vá! Se ligue vu?!
- Bufa-fria!

Carlinhos Buiú ficou injuriado com essa conversa.

No domingo, para comemorar a zorra, rolou um reggae com banda e cerveja. As colegas chamaram Bel que disse que ia, mas a pulso. Ela sabia que Nego Bom ia estar lá e queria ver a cara do miserável. Nego Bom, ligado na parada, fez questão de ir ao pagodão para tirar onda de herói. Muita música, muita cerveja, muita gente, azaração e pegação rolando. Tudo certo, menos para Bel que só ficava ligada no amado e com raiva ao mesmo tempo. Daqui a pouco, Bel foi pegar uma cerveja e deu de cara com Nego Bom:

- E aê gata. Quis me comediar... Tá veno?! Se campou...
- Ta falando de quê, metidão?
- Agora... Você ficou de treta com Buiú, que eu tô sabeno.
- Você se acha mesmo, né, véi? O reizinho da moto.
- Cole véi?! Você foi na trairagem pra armar pra cima de mim. Precisava, véi? Precisava?
- Baixe a voz que eu to conversano.
- Que conversano? Que conversano? Tu quer me tirar, véi. Maior traíra.
- Se oriente, maluco. Você já era para mim. A fila andou otário.

No meio dessa discussão, Nego Bom segurava Bel pelo braço para ela não ir embora, enquanto a conversa ficava cada vez mais agressiva. Bel continuava dizendo:

- Seu negócio é essa piriguete aê, que você ganhou na porra da sinuca. Tu gosta da nigrinhagem.
- Se liga, nem encostei nela.
- Ainda por cima é cara-de-pau véi.
- E você? E você? Se acha a mulher muito bonita, né? Canhão desse... Sai daí tribufu.
- Me respeite vagabundo. Tem um bucado de gente que não acha. Faz fila vu.

Já tava arrodeado de gente vendo a baixaria, quando Buiú saiu do nada e pulou na frente de Nego Bom com uma faca na mão. A roda abriu. Era briga de capoeira. A zuada parou na hora. Não se ouviu mais nada. E ali, no meio da festa, se viu meia-lua de costas, arpão, martelo, escorão, queixada, rabo-de-arraia. Mas foi numa guela que Buiú vacilou e perdeu a faca. Como o jogo era a vida, de cabeça quente, Nego Bom meteu-la porra em Buiú, que se estabacou no chão dando o ultimo grito de dor. Nego Bom se estatelou do outro lado, cansado, com adrenalina saindo pelos poros e a respiração ofegante. A galera vazou geral. Bel, diante daquela cena, num misto de ódio e desgosto, pegou a faca de Buiú e enterrou na barriga de Nego Bom. Foram cinquenta e duas facadas acompanhadas de muito choro. E como disse a música: “zum-zum-zum, zum-zum-zum, capoeira mata um”. Um final trágico de uma história que nem tinha começado direito.



Sergio Manzione


Esta adaptação feita por Sergio Manzione foi baseada no episódio “Negro Bonifácio” da série “Cena Aberta”, adaptação do conto de João Simões Lopes Neto, roteiro de Jorge Furtado e Guel Arraes, versão 13/08/2003, produção da Casa do Cinema de Porto Alegre para a TV Globo e está disponível em: http://www.casacinepoa.com.br/os-filmes/roteiros/negro-bonif%C3%A1cio

A Excêntrica Família de Antonia

A tradução do título por si só já é um exercício de simbolismo. No original o filme chama-se apenas “Antonia”. Ao atribuir excentricidade àquela família se faz um pré-julgamento sem considerar a cultura na qual está inserida a história. Particularmente, não considero a família de Antonia excêntrica, quando devidamente contextualizada.

No filme em si, Antonia volta para casa, após vinte anos de afastamento, para estar presente ao derradeiro dia de sua mãe. Traz consigo sua filha e assistem a morte de uma forma, que para outros, pode parecer extremamente distante e sem emoção. Tanto que Antonia e a filha ficam em pé sem sequer chegar perto da mulher-mãe-avó que deita e morre. Seria esse um quadro de total desprezo pela emoção? Ou seria da completa aceitação do ciclo inevitável da vida? Da certeza de que as pessoas não morrem, mas estão sempre presentes, seja na memória de seus parentes, seja nas ações que se refletem na sociedade. O filme retrata isso quando Antonia – ela agora – se prepara para a morte. Num almoço, ela dança sua última dança e vê os que já se foram. Os mortos continuam vivos numa metáfora que remete à realidade. Metáfora essa que se estende ainda mais quando a bisneta também vê os mortos. Sinal de que a cultura daquela sociedade foi internalizada pela criança. O filme mostra muito mais. São cinco gerações de mulheres que, com suas características próprias, vão conduzindo um núcleo familiar cada vez maior. A generosidade de Antonia permite e agrega o vizinho viúvo, que quer casar com ela, e seus cinco filhos, que ajudam nas coisas da lida pela sobrevivência, mas participam dos momentos alegres e tristes. São ainda retratadas várias situações que ocorrem em qualquer sociedade, mas neste microssistema ocorrem ao mesmo tempo. O padre pedófilo, o homem que estupra a própria irmã, o “deficiente mental”, a mulher que uiva para a Lua, o estudioso de Schopenhauer e Nietzsche.

O sexo é um dos fios condutores de todas as relações existentes naquela sociedade. O incesto é tabu e foi punido inclusive com a morte do estuprador da irmã pelo outro irmão dos dois. Todos sabem que necessitam de relações sexuais e isso é aceito de uma forma muito natural e respeitosa. Não há vulgaridade, mas prazer nos encontros. Isso se dá com Antonia, que cede ao assédio contido do vizinho viúvo. Ela é liberta e não quer um casamento em que tenha de compartilhar do mesmo teto, mas compartilhar do sexo, das refeições e do convívio. O sexo existe também entre o casal formado pela mulher que era estuprada pelo irmão e o homem deficiente mental. Ambos já haviam sido acolhidos por Antonia. A filha de Antonia decide ter um filho, mas não quer um marido, não quer um homem ao seu lado. Isso não causa estranheza e Antonia ajuda nesse processo de escolha de um “reprodutor”, irmão de outra personagem que tem vários filhos e gosta da vida dos prazeres sexuais. Ela é acolhida por Antonia e acaba por se casar com o padre que larga a batina, pois precisa viver uma vida que inclua o sexo. O outro padre também é desmascarado e pego em flagrante com uma jovem no confessionário. Esse mesmo padre tentava impor um discurso moralizador em seu sermão, justamente sobre o ato da filha de Antonia querer ser mãe solteira. A hipocrisia da Igreja.

O componente sexo está presente na metáfora da mulher que uiva para a Lua e anuncia sua histeria por falta de sexo. No andar de baixo dessa mulher mora um “protestante”, que suporta esses uivos, mas é o único presente quando a mulher morre, ambos privados de uma vida sexual. Desse contexto todo explanado no filme, pode-se tentar entender o exercício da tolerância tão comum na Holanda, que talvez seja um dos países mais tolerantes quanto a todas as diferenças. Parece que três componentes são fundamentais nesse processo de desenvolvimento da tolerância: (1) a vida sexual ativa e livre, (2) o respeito ao ser humano como indivíduo e (3) o rechaçamento a tudo que vier a quebrar os dois primeiros.

Não podemos analisar a família apartada da cultura na qual está inserida e esse é o pensamento de Lèvi-Strauss. Para ele, a família consanguínea, precisa se desfazer para que a sociedade exista, ao mesmo tempo em que a sociedade é condição da existência da família. São grupos de pessoas (famílias) dispostos a reconhecer seus limites e a se abrir ao outro através de alianças. Isso é visto no filme, onde o núcleo de Antonia se expande agregando pessoas diferentes e que vão ampliando a família. Essa concepção de Lèvi-Strauss se diferencia da perspectiva funcionalista que vê na família apenas uma unidade biológica com pai, mãe e filhos, na visão de Malinowski e, também, na vertente estrutural de Radcliffe-Brown. Para Lèvi-Strauss a família funda o social, sim, mas não nos termos funcionais da biologia humana, mas, ao contrário, porque na existência da família, como aliança, está a possibilidade do ser humano se fazer social, comunicando-se, rompendo e ampliando o isolamento a que nos condena a consanguinidade.


Sergio Manzione

sábado, 16 de outubro de 2010

Um tipo de solidão

Estar sozinho rodeado de gente. Esse é um daqueles tipos de solidão mais chatos. Chato porque você passa a ser um objeto incômodo, se tanto. Pior ainda é se a pessoa que você gostaria que se importasse com você também faça parte dessa multidão. É um abandono assistido e alimentado, pois você não vai morrer de fome ou de frio, nem ficar sem onde morar, mas vai ficar isolado. Tenha certeza, no entanto, que todos correrão para socorrê-lo caso você atrapalhe demais. Afinal, são pessoas solidárias e compreensivas...


Mano Jone

sábado, 2 de outubro de 2010

Prossigamos!

Toda via prossigamos!
Seja de que maneira for!
Saiamos a campo para a luta, lutemos, então!
Não vimos já como a crença removeu montanhas?
Não basta então termos descoberto que alguma coisa está sendo ocultada?
Essa cortina que nos oculta isto e aquilo, é preciso arrancá-la!

Bertold Brecht

domingo, 5 de setembro de 2010

Pai-Mãe Nosso de Cada Dia

Pai-Mãe, respiração da Vida,
Fonte do som. Ação sem palavras. Criador do Cosmos!
Faça sua Luz brilhar dentro de nós, entre nós e fora de nós
Para que possamos torná-la útil.

Ajude-nos a seguir nosso caminho
Respirando apenas o sentimento que emana do Senhor.

Nosso Eu, no mesmo passo, possa estar com o Seu,
Para que caminhemos como Reis e Rainhas
Com todas as outras criaturas.

Que o Seu e o nosso desejo sejam um só,
Em toda a Luz, assim como em todas as formas,
Em toda existência individual, assim como em todas as comunidades.

Faça-nos sentir a alma da Terra dentro de nós,
Pois, assim, sentiremos a Sabedoria que existe em tudo.

Não permita que a superficialidade e a aparência das coisas do mundo nos iluda.
E nos liberte de tudo aquilo que impede nosso crescimento.

Não nos deixe ser tomados pelo esquecimento
De que o Senhor é o Poder e a Glória do mundo,
A Canção que se renova de tempos em tempos
E que a tudo embeleza.

Possa o Seu amor ser o solo onde crescem nossas ações.


Amém.


Esta é uma tradução do Aramaico.

sábado, 4 de setembro de 2010

O inferno não são só os outros.

“O inferno são os outros”
Jean Paul Sartre


Introjeção
1.Psican. Mecanismo psicológico pelo qual um indivíduo, inconscientemente, se apossa de um fato, ou de uma característica alheia, tornando-o(s) parte de si mesmo, ou volta contra si mesmo a hostilidade sentida por outrem.

O título poderia ser também: "A pessoa que só consegue olhar para si mesma."

É interessante como algumas pessoas nunca conseguem se enxergar com parte do problema ou, ainda, como a origem do problema todo. São hábeis em identificar o erro alheio, ou o quanto a outra pessoa é capaz de fazer errado o que, claro, a leva a sofrer. Pior, o que o outro faz justifica os seus próprios erros. A lógica do “eu erro porque ele(a) me leva a isso” é uma fuga colossal de qualquer coisa, mas, também, é uma injustiça com relação ao outro. Essas pessoas, críticas de tudo e de todos, precisam sempre achar algum defeito no outro para poder mostrar a sim mesmo e ao mundo que são melhores do que a coisa classificada como errada. Normalmente são pessoas inflexíveis e que não suportam nem a ideia de estarem erradas diante do julgamento de outros e de si próprias. A formação repressora, rígida e com o elemento culpa estão presentes nelas. Elementos punitivos interpsíquicos e depois intrapsíquicos são o pano de fundo. Mitos, lendas, estórias inocentes são componentes, mas a religião parece ser o elemento principal para criar um tribunal interno onde nada pode passar sem avaliação. Muitos pais criaram e criam seus filhos com o respaldo da Inquisição. Criam normas e condutas baseadas em suas próprias distorções do mundo, mas o que valida é a forma como utilizam a religião nessa repressão desmedida. Quando adultos, sem a firmeza dos pés no chão e com o vício e a necessidade de avaliar criticamente tudo que está à sua volta, têm a auto-estima sempre no limiar inferior. A transferência da origem dos problemas para o outro apenas revela o medo de olhar para si próprio. Outra ideia é de que quando se olha para si mesmo e não gosta, isso é recalcado e projetado para fora. Declarações do tipo: “eu sou assim por sua causa” ou “eu só fiz assim por sua culpa” são expressões que com certeza conhecemos alguém que as fala. Trata-se de uma transferência injusta de responsabilidade e, ainda, de uma forma de fugir da autopunição. Ora, se ele critica, julga e condena determinada ação, como aceitaria para ele mesmo? Nesse ponto pode surgir outra distorção, a de que “eu posso fazer isso, mas o outro não”. Algum mecanismo dá o aval para que “eu” tenha respaldo para transgredir as próprias regras sem se punir. “Eu posso”, pois há o respaldo em algum valor universal, como a honestidade, a sinceridade, elementos que “eu” não identifico de forma satisfatória no outro. Ou seja, recorre-se a mais uma fuga em que o outro é deslocado. O paradoxo está em que tudo de ruim é feito pelo outro, mas porque exatamente “eu” não consigo olhar o outro. Só vê a si mesmo e às próprias crenças (sentido amplo). O indivíduo não consegue ter empatia e exercitá-la. Ele vê no outro a origem e fim de todos os problemas.

Caso todo esse processo fosse inconsciente, o problema seria mais fácil de ser lidar no dia-a-dia. Digo isso porque não é fácil para alguém conviver com indivíduos com essa característica. É fácil imaginar que se você for a outra pessoa, ou seja, aquele que tudo causa, você será o réu preferencial de tudo que ocorra e que possa ser um “erro” compartilhado ou só do outro mesmo. O rito de crítica-julgamento-sentença-punição é o seu dia-a-dia. Lembrando que a chance de você ser o culpado nesse tribunal é quase total. Seu desgaste vai ser sempre gigantesco para provar ao tribunal que você não tem nada a ver com o que está acontecendo. E haja energia, paciência e fé. Os diálogos passam a ser braços-de-ferro para ver quem tem a razão. A pessoa que só olha para si, sempre vai ter certeza de que está certa e vai gritar, rosnar e agredir da forma que lhe for peculiar. Você – o “réu” – será alvo de críticas ainda maiores, sendo chamado de criança mimado, fraco, coitadinho, e de qualquer palavra pejorativa que o desqualifique. Ou seja, por mais que tenha razão, tudo será encarado como afronta por aquele que só vê a si mesmo. Como ataque, passa a desdenhar e a tentar desqualificar o outro, o que o deixará mais e mais irritado. Ele lhe dirá que você está sempre querendo fazer o papel de vítima. Só que muitas vezes você é vítima mesmo. É um círculo vicioso e que só termina quando o crítico-juiz de tudo, por alguma luz divina, consegue ver o quanto é inflexível e quantos erros comete. Isso pode levar anos ou nunca ter fim.

Quando você se dá conta, está vivendo a vida desse outro, que só vê a si mesmo, mas que diz que só tem olhos e ações para você. A sua vida passa a ser contemporizar, entender, aceitar, orar, pedir ajuda, sofrer, bater com a cabeça na parede, tudo pelo outro. Nessa altura, você se pergunta o quanto você, de fato, tem participação nos problemas. Com toda certeza você tem participação sim em quase tudo que ocorre. A questão é que nem sempre você é culpado pelos dissabores que ocorrem. Os que tem alguma tendência a sentir culpa, também resultado de uma formação punitiva, vão ouvir essas acusações e introjetar de tal forma que passam a pensar que realmente são o problema. Caso deem sorte, um dia vão acordar e perceber que essa situação é pesada demais, é irritante. A responsabilidade que o outro joga para cima desse indivíduo é desmedida. Quando ele quer crescer, primeiro tem de vencer a própria culpa de estar tentando evoluir, pois isso desagrada aquele que o vê como causa de tudo. Nesse momento, como dificilmente a evolução de ambos é simultânea, tem de exercitar algo bem difícil a tolerância e a compreensão próxima ao próprio Buda. Passa esse eterno acusado, agora um pouco mais evoluído, a ter de conviver com uma situação que lhe é desagradável e que passa a ser pior porque ele tem consciência disso, mas o outro não. Não é nada fácil viver isso, pois o questionamento sempre vem à tona para fazer titubear e refletir se o que estamos fazendo está certo. Será?

Não se acerta sempre, mas também não se erra sempre. O inferno não são só os outros que constroem.


Mano Jone

sábado, 28 de agosto de 2010

Buzina de Moto

Eu sinceramente gostaria de saber quem inventou a buzina das motos. Queria entender se houve alguma intenção ou foi mero acidente o resultado sonoro. O som passou a ser irritante. Talvez o inventor nunca tivesse sonhado que o mundo seria dominado pelas motos. Talvez ele só tenha projetado uma buzina simples que se encaixasse na frente da moto. Com certeza ele nunca imaginou que o som singelo e até ingênuo da sua buzininha, se transformasse num som usado milhões de vezes ao dia só para alertar e motoristas. Ou para avisar que a moto está chegando e é melhor você abrir espaço para essa espécie de ataque. O sonzinho agudo é o resultado de um produto bem rudimentar, talvez fosse adequado para identificar um veículo pequeno. Sempre fazemos essa associação: um homem grande "tem que" falar grosso (grave). Já as delicadas mulheres, espera-se delas uma voz fina (aguda). Ah! Como os tempos mudaram... Talvez a buzina aguda e estridente da moto esteja relacionada com a figura frágil do veículo que, agonizando entre ônibus e caminhões, desse um grito de esperança de ser ouvido e se salvar. A moto pode até ser frágil, mas quem está sentado em cima não é (ou é?).

Neo-cavaleiros de uma távola de asfalto, esses alucinados e, na maioria das vezes, desconhecedores de coisas como ética, cidadania, respeito, regras de trânsito, surgem de onde a gente menos espera. Mas não sem anúncio. Tal qual uma guerra psicológica, eles anunciam que estão chegando. É como aquela sirene que se usava na II Guerra Mundial, avisando ataques aéreos. Lá vêm eles... Protejam-se... As malditas buzininhas avisam que a nuvem de gafanhotos de duas rodas vai chegar quando você estiver parado no semáforo. Para que a gente não se esqueça deles, ao longo do dia somos impregnados daquele som agudo-irritante, quando somos ultrapassados por todos os lados. O pior de tudo é que se mudar o som da maldita buzina não saberemos que lá está uma moto. Imagine uma moto com uma buzina a ar, do tipo usado por caminhões... Seria um estrago e uma confusão. Taí um mal que só a tecnologia poderá nos salvar. Ainda teremos de aguardar coisas do tipo “detector de motos”.


Mano Jone

quinta-feira, 8 de julho de 2010

O verbo na segunda pessoa

Detesto gente que fala ou escreve com o verbo na segunda pessoa para parecer intelectual. Usam esse artifício em cartões de natal ou em assuntos que precisam ser sérios. Coisas do tipo "Tu sabes do meu apreço por ti." As exceções são aqueles que já usam isso no cotidiano, como catarinenses e gaúchos por exemplo.

No dia-a-dia esse tipo de gente escreve e fala errado, mas acha que pode impressionar com a mudança da pessoa. De fato, a pessoa muda mesmo...



Mano Jone

terça-feira, 6 de julho de 2010

Derrota da arrogância II

E lá se foi o Maradona e toda sua impáfia. Mais um arrogante que vai voltar sem nada na mão, apenas uma derrota de 4 X 0 para a Alemanha.

Fora Maradona! Fora Dunga! O mundo fica bem melhor sem ter de ver suas faces arrogantes de gente que pensa que tem o rei na barriga. O rei era um verme...

Mano Jone

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Derrota da arrogância

Hoje a seleção brasileira de futebol perdeu para a da Holanda por 2 a 1. Derrota no jogo. Derrota da arrogância, da prepotência, do egoncentrismo, da onipotência, da falta de educação, da mediocridade. Todas essas péssimas características foram colocadas em destaque como se fossem boas. O Dunga como alguém que, apesar dessas coisas, foca no resultado. E o resultado é esse que se viu... Assim como ele existem outros tantos por aí que gritam, xingam e tem certeza de que esse é o caminho para a solução de problemas. São pessoas que carregam seus traumas e frustrações e saem descarregando esse ódio pelo mundo, além de precisar da reação negativa dos outros como alimento para sua alma podre e doente.

Vitória do bem! Vitória da humildade!

Dou meu "fora Dunga" extensivo a todos iguais a ele, homens e mulheres, que com sua arrogância perniciosa invadem o mundo com a mediocridade dos fracos.

Mano Jone

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Caçada aos Espertinhos do Trânsito - Parte 2/2


Caçada aos Espertinhos do Trânsito - Parte 2 de 2 from Mano Jone on Vimeo.

Caçada aos Espertinhos do Trânsito - Parte 1/2

Caçada aos Espertinhos do Trânsito - Parte 1 de 2 from Mano Jone on Vimeo.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Até quando...

O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons.

Martin Luther King

terça-feira, 15 de junho de 2010

Injustiça

Falar, fazer e não ser ouvido.
Muito menos reconhecido.
Mostrar, provar e não ter crédito.
É a repetição de tudo que é inédito.
Chorar, gritar e ser desprezado.
Solitário, triste e humilhado.

Ouvir, ver fazer e não poder falar.
Para não ser reconhecido e calar.
Parece que tudo não vale o mérito.
Olhar, ver provas e nada é inédito.
Ouvir o choro e o grito e ser humilhado.

Nem tudo, nem nada acabado.
É preciso enlouquecer com sanidade.
Com tolerância o caminho se abre.
Como dizem: ela tarda, mas não falha.
Paciência e fé, ó Deus, me valha!

Mano Jone

sábado, 13 de março de 2010

Além do Umbigo

Empatia:
Tendência para sentir o que sentiria caso estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por outra pessoa.


Há certos dias (ou tardes ou noites) em que é muito difícil ser e estar. O “to be or not to be” deve ter sido dito num dia desses...

Há momentos em que se olha para os lados e só se vê a si mesmo como num quarto de espelhos. Nada a ver com narcisismo, mas com isolamento. Provocado ou não, consequência dos próprios atos ou não, isso não importa no momento exato em que se sente a ausência afetiva dos outros. De nada adianta reclamar de que se deveria ter feito a revisão no carro quando ele está quebrado no meio da avenida. Talvez a ausência de reforço positivo, apoio, palavra amiga, solidariedade não seja o pior dos mundos nessas horas. Creio que é bem pior quando se está só com gente por perto. Mas dá para ser ainda pior: estar isolado, com pessoas conhecidas por perto e que ainda se posicionam contra a gente. É quando se procura apoio, por menor que seja, e se encontra todos lhe mandando bala, seja diretamente ou com piadinhas e comentários. Por que temos sempre de entender o “semelhante”, mas este não nos entende e nem se esforça para tal?

A grande maioria das pessoas não consegue ver além do próprio umbigo. Ainda se fosse o umbigo alheio... Mansamente mandam recados através de palavras e situações suaves ou “engraçadas”, mas que contém uma carga de crítica próxima ao fuzilamento. Talvez em outros tempos e lugares fosse suficiente para uma guilhotina com requintes de sadismo. Coisas como: “Olha só como ele é malandro...” seguido de risos. Ou então: “Ele repete tanto as coisas que parece drogado...” seguido de risos. Falta o exercício constante da empatia.

Essas situações são entediantes para não dizer deprimentes. Mostram um desnível entre as partes. De um lado alguém que não sabe contextualizar as coisas e não tem o menor trato com o outro, apesar de pensar que tem. É aquele ponto em que a pessoa não consegue fazer uma lista com seus cinco defeitos principais. Faça esse teste: pergunte para alguém quais são seus cinco defeitos. Talvez você ouça coisas do tipo: “Ora, são tantos que nem sei por onde começar...” (expondo a falsa modéstia). Ou um silêncio profundo, pois a pessoa não consegue identificar seus próprios defeitos, mas sabe enxergar o dos outros. Defeito número um já identificado!

O caldeirão começa a ferver quando você está com a razão e ouve que você está errado ou que não sabe fazer isso ou aquilo, mesmo que você o faça ao longo dos últimos trinta anos. Não se incomode tanto, pois provavelmente você está diante de um medíocre. Alguém que pensa ter passado de algum limite intelectual porque leu dois ou três livros da moda (ou só a orelhas deles) ou porque desenvolveu a capacidade de persuadir para garantir a sobrevivência da sua pequenez. Pessoas que vão sempre tentar nivelar por baixo bastando para isso uma oportunidade.

Seja qual for a situação de isolamento em que você esteja, respire fundo e pense que poderia ser ainda pior. É o jogo do contente. Uma alternativa é polir as ferraduras e colocar alguns nos devidos lugares. Outra pode ser deixar todos como estão e mudar você de lugar. Ou de ser e estar.


Mano Jone

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Percepção do Bem

Eu estava na varanda do amplo apartamento de um amigo. Dá para ver uma enorme extensão do mar. O sempre fascinante horizonte se abre o suficiente para ver grandes navios indo rumo ao porto. Passam uns barcos de pesca e lanchas. O vento constante balança um enorme coqueiro, que fica bem na altura dos olhos.

Depois de um tempo de contemplação comecei a notar novos detalhes da paisagem. A princípio, o mar parece um grande manto plástico. Com calma, aparecem as ondas, as marés, as diferentes cores, o reflexo do Sol e os pensamentos. O silêncio aparece e traz a concentração. Tudo está ali e, ao mesmo tempo, nada existe. Por um momento breve (4 ou 5 segundos) consegui estar numa sensação de imenso e imerso. Naquele lapso de tempo, pude perceber a infinita paz, que vem junto com a alegria de somente estar sentindo. Aliás, essa percepção vai além do sentimento. Ou seria o grande sentimento de estar envolvido em tudo, sendo uma partícula do Universo.

Acho que consegui ficar alguns segundos ao lado de Deus. Ele está sempre! Eu preciso ficar mais com Ele.


Mano Jone

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Salvar o Planeta II: A pretensão

É impressionante onde podemos chegar com nossa arrogância e impáfia. Agora nos atribuímos a função prá lá de pretensiosa de salvar o planeta. Hipocrisia, pretensão ou os dois e mais alguma coisa. Então quer dizer que com toda nossa tecnologia, nossos governantes, nossa cultura e tudo que nos cerca e que nós somos, vamos salvar o planeta? Ora, ora... basta uma sacudidela e vamos todos para o espaço (literalmente).

O ser humano ainda hoje vive a ilusão de que é preciso dominar a natureza, como se esta fosse uma caça e, pior, uma inimiga a qual temos de subjugar. Para a Natureza somos a pior espécie em seu quintal. Ainda temos em mente de que tudo que está aí nos foi dado de graça e que, portanto, é uma eterna festa. Acabaremos com tudo o que pode ser proveitoso para nossa ganância desenfreada e não sobrará nada para comer ou beber. Mas os que hoje dominam não estão nem aí, pois só pensam no hoje materialista e amanhã eles não estarão aqui mesmo. É a forma egoísta de pensar. Mas não é só deles não. Talvez porque eles estejam lá e não nós...

Enfim, todos esses fatos expõe a pequenez do ser humano e sua posição ridícula só porque aprendeu a falar e descobriu a roda. Grande coisa. Para o Universo, não somos nada.

Quando será que a humildade será um hino em nossos corações? Será que vai dar tempo?

Mano Jone

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Salvar o Planeta I: A hipocrisia

Chega a ser engraçada a preocupação atual em “salvar o planeta”. Engraçada para não dizer hipócrita. O certo seria uma campanha mundial para salvar a humanidade. Para nos salvar!

A Terra não precisa de nós. Aliás, se a humanidade desaparecer o planeta continuará sua trajetória sem o elemento mais destruidor de todos: nós! Seria um alívio...

Todos os dias assistimos à “enorme” preocupação que os países como a China e os Estados Unidos estão dando ao problema. Deixar que o futuro seja decidido por materialistas é como jogá-lo no lixo (não reciclável). Enquanto isso a quase totalidade dos humanos assiste pela TV o que os outros estão fazendo para salvar o planeta. Temos a natural resistência em achar que há certo exagero ou que o problema é dos outros – claro que estou generalizando. No entanto não havia furacões em Santa Catarina. Palavra recente: tsunami. O máximo que a gente sabia é que havia um maremoto de vez em quando.

Não! O mundo não está acabando! O que está acabando é o nosso contrato de aluguel. Nossa permanência nele! O planeta se sacode, remexe, mas a Lusitana continua rodando. Provavelmente a Terra está passando por mais um de seus ajustes naturais. Talvez nada do que estamos fazendo para “salvar” o planeta vai ter algum efeito e a humanidade some ou se reconfigura. Será que haverá alguém para contar a história? E haverá história a ser contada?

Enfim, seria muito mais objetivo se começássemos a campanha pela nossa salvação em função do que o planeta está fazendo por conta própria e também reagindo ao nosso emporcalhamento.

Sejamos honestos: vamos salvar a humanidade! Mas será que vale a pena?


Mano Jone