domingo, 9 de dezembro de 2012

Os salários das mulheres e eu.

Sempre ouço que as mulheres têm um salário inferior ao dos homens.  Acho isso lamentável, afinal não vai ser o gênero que vai definir a capacidade de desenvolver um trabalho.  De outro lado, considerando que as mulheres ganham menos mesmo, comecei a lembrar que sempre estive rodeado de mulheres em meu empregos.  Agora compreendo porque sempre ganhei tão mal...

Mano Jone

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Onde está o nosso tempo? Tempos modernos e de modernidade líquida.

Hoje vivemos num tempo diferente.  Um tempo sem tempo.  Somos localizados pelo celular, pelas tais redes sociais, e-mails e outras tantas "modernidades".  De fato, alguns desses apetrechos são bem úteis, como o telefone celular, por exemplo, se você estiver numa situação de perigo ou precisando de ajuda.  Antes do celular, quando o carro quebrava numa madruga, o motorista tinha de sair andando atrás de algum posto de gasolina ou orelhão.  E se estivesse chovendo...   Enfim, nem tudo que muda é ruim, mas as mudanças talvez estejam rápidas demais, nos fazendo sentir cada vez mais sem tempo, ou cada vez mais com menos.  Isso aumenta o vazio e o desejo de preenchê-lo.  Zygmunt Bauman introduziu o conceito de "liquidez" nas relações sociais e disse que "vivemos tempos líquidos, nada é para durar".  Ele também fala do "amor líquido", onde quem hoje é ideal, amanhã pode ter sido deletado da lista de "amigos" das redes sociais.  Apaga-se a pessoa e as relações correspondentes.  Os tempos sõ de transformações rápidas, o que nos faz sentir lentos e nos faz correr contra uma sensação de que se está perdendo tempo, negócios, amigos, vida.

O sorriso podre do capitalismo fica estampado em sua carcaça repugnante.  Ri da nossa corrida para comprar a modernidade, que amanhã será velha.  Aparelhos e serviços que serão obsoletos cada vez mais rápidos.  O conceito de marketing de criar a obsolescência programada é algo que se usa há muito tempo para que os nossos carros, televisores, computadores, celulares e tudo o mais  sejam vistos como velhos.  Inclusive as pessoas.  Não se fica idoso, mas velho.  E o velho é inútil e para ser jogado fora.  A pessoa que se aposenta se torna velho e obsoleto para o dragão capitalista (ou seria a Grande Prostituta do livro do Apocalipse), pois não produz mais.  Troca-se por alguém que produza e gere lucro.  Só que isso vem acontecendo cada vez mais rápido e com todas as coisas.  A obsolescência nem mais é tão programada assim, pois vem muito mais rápido do que se possa programá-la.  A modernidade está ficando obsoleta ou é a própria obsolescência?

Transformações rápidas, modernidade liquefeita traz o tempo-do-mínimo-tempo fazendo com que essa pressa toda quebre quaisquer regras básicas de convivência mais adequada, fina e educada.  Essa pressa faz com que pessoas ansiosas demais e com medo demais de seus vazios, atendam e falem, através de seus modernos telefones celulares no meio de uma peça de teatro ou de um almoço em família.  Não se pode perder nenhuma oportunidade de preencher o vácuo criado pelas extensas e fantasiosas redes sociais.  Naquela uma hora e meia de uma peça de teatro ou de um filme no cinema, pode ser que a pessoa receba aquela ligação que ela nem esperava, mas que seu telefone toque e que se fale ou mande uma mensagem imediatamente após receber.  A demora nesse tipo de comunicação gera ansiedade e sensação de rejeição, caso a resposta demore muito.  Imagine se a resposta não vier ou se o telefone não tocar numa ligação que não se esperava, seja lá de quem for.  A partir daí o indivíduo atende ao celular no teatro ou outros olham incomodados com ele ou porque os próprios celulares não tocaram?  Os outros reclamam por atrapalhar a peça ou porque o outro recebeu uma ligação e eles não?  Não se pode generalizar, apesar desse ser o desejo capitalista, assim os custos caem na produção com economia de escala.

Essa pressa toda, se for bem refletida só serve, penso eu, para que possamos valorizar mais o nosso tempo presente, usufruindo dos dias como esses fossem únicos, ou poucos, ou líquidos...  Inversamente, esse tempo curto, essa pressa desmedida nos arranca do presente e nos joga no futuro, onde estão as coisas que saciarão nossos desejos e vazios.  Daí só nos resta a ansiedade, as relações frouxas e somente de troca.  A amizade passa a ser uma mercadoria e pode ser trocada, vendida, jogada fora se ficar velha ou, então, o amigo não tenha mais nada para nos dar.  Haja antidepressivos para enganar as mentes e enriquecer laboratórios!  Haja paciência e fé!  E que haja um vazio qualquer para poder entrar e deixar o tempo de cada um fluir de acordo com seu relógio mental, espiritual ou material.

Lembrei desta música do Barão Vermelho:


Pense e dance
Barão Vermelho

Penso como vai minha vida
Alimento todos os desejos
Exorcizo as minhas fantasias
Todo mundo tem um pouco de medo da vida

Pra que perder tempo desperdiçando emoções
Grilar com pequenas provocações?
Ataco se isso for preciso
Sou eu quem escolho e faço os meus inimigos

Saudações a quem tem coragem
Aos que tão aqui pra qualquer viagem
Não fique esperando a vida passar tão rápido
A felicidade é um estado imaginário

Não penso em tudo que já fiz
E não esqueço de quem um dia amei
Desprezo os dias cinzentos
Eu aproveito pra sonhar enquanto é tempo

Eu rasgo o couro com os dentes
Beijo uma flor sem machucar
As minhas verdades eu invento sem medo
Eu faço de tudo pelos meus desejos

Saudações a quem tem coragem
Aos que tão aqui pra qualquer viagem
Não fique esperando a vida passar tão rápido
A felicidade é um estado imaginário

Pense e dance
Pense
Pense e dance


Então, pense e não dance!

Mano Jone

quinta-feira, 26 de julho de 2012

A certeza do vazio que o amor pode preencher

A desilusão após a luta inglória.  A tomada de consciência da luta inútil e alienada.  A luta cega contra moinhos de ventos.  A brusca queda para a realidade.  A certeza do vazio a ser preenchido pelo amor.

Universo no teu corpo
Taiguara

Eu desisto
Não existe essa manhã que eu perseguia
Um lugar que me dê trégua ou me sorria
E uma gente que não viva só pra si

Só encontro
Gente amarga mergulhada no passado
Procurando repartir seu mundo errado
Nessa vida sem amor que eu aprendi

Por uns velhos vãos motivos
Somos cegos e cativos
No deserto do universo sem amor

E é por isso que eu preciso
De você como eu preciso
Não me deixe um só minuto sem amor

Vem comigo
Meu pedaço de universo é no teu corpo
Eu te abraço corpo imerso no teu corpo
E em teus braços se unem em versos à canção

Em que eu digo
Que estou morto pra esse triste mundo antigo
Que meu porto, meu destino, meu abrigo
São teu corpo amante amigo em minhas mãos
São teu corpo amante amigo em minhas mãos
São teu corpo amante amigo em minhas mãos

http://www.youtube.com/watch?v=qZmOQSLoG9U

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Trombone Shorty no Teatro Castro Alves

Trombone Shorty & Orleans Avenue
Teatro Castro Alves - Salvador - Bahia - 11 de Junho de 2012

A expectativa em assistí-lo era grande, pois afinal trata-se de um músico que tem Trombone no nome.  Numa tradução livre, podemos chamá-lo de Tromboninho.  O diminutivo está apenas no nome, pois ele sabe bem como tocar o instrumento que lhe dá nome, assim como o trompete.  Possui grande técnica e executa com precisão linhas melódicas com alto grau de dificuldade.  As músicas apresentadas no show foram um pouco iguais demais, o que tornou a apresentação uma sequência da mesma coisa.  Curta sequência, diga-se, pois o show todo teve 1 hora.  Muito funk e rock misturados de forma a agradar àqueles que deliram mais com a bateria do que com o sax tenor.  Os dois saxofonistas são muito competentes, assim como o baterista.  Tromboninho merece um guitarrista melhor (já teve Jeff Beck em seu CD) e um contrabaixista que saia da embolação e ofereça sustentação além do mediano.  A falta de um teclado deixa o som muito duro esburacando a Orleans Avenue ou deixando o Trombone Hardy.   Ele tocou e cantou, mas faltou mesclar músicas mais calmas para fazer o contraponto. Só dou o benefício da dúvida porque o som não estava bem equalizado e as frequências médias acabaram por estressar os ouvidos.
 
No final do show, ele soube como agradar aos fãs (?) e fez a volta às origens the New Orleans, tocando no "acústico" músicas tradicionais e descendo do palco.  Senti ali um pouco da admiração exagerada pelos que vêm de fora...

Enfim, acho que ele fez um show mediano para cumprir agenda e trouxe um repertório barulhento para agradar àqueles que saem dançando mesmo se o garçom derrubar a bandeja.  Tromboninho tem técnica para muito mais do que ele mostrou, mesmo se tocasse as mesmas músicas.


Mano Jone

Diante da morte...

Presenciar a morte de alguém nos torna humildes.  Constatar que somos limitados e finitos nos dá a certeza de nossa impotência, que não somos tão poderosos quanto pensamos.  Essa certeza, no entanto, é passageira.  Após alguns dias, esquecemos de tudo e voltamos a nos iludir.  Talvez esse impacto seja um momento único de solidão, o qual logo nos encarregamos de fugir.  Temos medo da solidão teórica, mas a morte nos dá a oportunidade de encarar a solidão real.  Sentimos e choramos pela saudade de quem vai, mas também pelo fato de que iremos um dia.

Assim como na virada do ano, diante da morte muitas pessoas fazem promessas de que irão aproveitar melhor a vida, serão mais caridosas e outras tantas promessas descartáveis. Descartáveis como nós.

Neste texto, escrevi na terceira pessoa, pois assim me sinto menos só. 

Mano Jone

domingo, 13 de maio de 2012

O velho, o idoso, a falta e a alienação

Quando uma sociedade precisa de leis e estatutos para garantir direitos aos idosos é porque os valores de respeito aos mais velhos não existem mais.  Não existe mais o respeito, nem aos novos.  A sociedade afunda e chafurda no "pão e circo" regados com a lógica de mercado, onde o que é velho não presta e o que é novo também não presta por muito tempo.  É preciso trocar logo o "x" para algo mais novo.  Sim, o "x" é uma variável onde você pode encaixar o que quiser, de um celular a uma amizade.  São os tempos do vale-tudo, onde o outro não importa, mas apenas a satisfação imediata de algum desejo.  Não há futuro, portanto quem tem menos idade, não se preocupa com o tempo em que ficará velho.   Tudo deve ser consumido agora e o depois não existe, mesmo com exemplos dentro de casa.  Aliás, muitas vezes esses exemplo, que são nossos pais e parentes idosos, só reforçam o "fracasso" que eles são.  Nós, nunca.


E assim, com a perversa e cruel lógica de mercado, tudo pode quando for com os outros.  Respeito aparece quando a atitude ou a falta dela pode trazer prejuízo ou lucro.  Sim, o discurso da sociedade atual não chega nem a ser hipócrita, pois a grande maioria não vê a diferença e a hipocrisia precisa de uma grande parte de realidade consciente.  A sociedade fala a língua dos alienados, que não se percebem assim e nem percebem a sutileza e a fluidez da alienação.  Ela está aí e aqui, como o ar que respiramos e não vemos, mas que nos é fundamental.  A corrida contra o tempo nos faz mais ansiosos e preocupados em fazer coisas, muitas vezes, inúteis.  Mas não se perca, qualquer coisa que fazemos está colaborando com a sanha capitalista, que lhe orienta a comprar e comprar e comprar sem se preocupar com o dia de amanhã.  É tudo hoje!  E tudo agora!  É tudo efêmero!  Se não der agora não dá nunca mais...   É preciso ir agora ou a promoção acaba.  É preciso ir assistir tal coisa agora, porque amanhã não tem mais.


E assim caminha a humanidade...  na busca do que lhe falta, na busca de algo que lhe dê um significado.  Enquanto isso, o trator consumista vem com seu megafone anunciando algo imperdível e desviando a atenção.

Ficamos idosos, velhos nunca.

Mano Jone

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Arrocha Universitário

Li na janela traseira de um ônibus sobre um show de música.  A tal música era o "Arrocha Universitário".  É mais um "estilo" que foi acrescentado ao irmão "Sertanejo Universitário".  É lamentável como o nível de nossos universitários vem caindo ano após ano.  Aliás, isso já estava escrachado quando Silvio Santos mandava perguntar aos universitários e eles respondiam errado ou não sabiam respostas simples.


Esse é o nosso ensino, que segue a lógica de mercado, ou seja, do lucro para quem investe.  Nesse caso não são os alunos, nem os pais, nem o país.  E agora já conseguimos rebaixar os universitários, que antes iam às ruas protestar contra governos, a meros apreciadores do "Arrocha".  Com certeza virão coisas ainda mais baixas.

Mano Jone

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Cansei de ser uma Tela

É muito interessante quando buscamos redefinir nosso papel como indivíduos.  Redefinir nossa identidade.  As pessoas estranham. Estranham o fato de que não somos mais aquele conjunto de projeções feitas. Estranham o fato de termos coragem de mudar e mexer nas coisas ditas intocáveis.  As pessoas querem e cobram que a ovelha desgarrada volte ao seu papel naquele grupo.  Afinal, quando tentamos nos modificar seja para melhor ou não, estamos alterando todo o conjunto de pessoas à nossa volta.  Alguns reagem com mais veemência, exatamente porque projetam em nós uma série grande de expectativas e emoções que, de repente, tiramos pelo simples fato de que queremos ir em frente e evoluir.  O grupo, a família, não permite que sejam feitas grandes alterações, pois o papel que desempenhamos desde nascer ficará vago e ninguém, a principio, poderá ocupá-lo.  Gera insegurança.  Por isso, talvez, seja difícil encontrar apoio de alguns mais próximos nesses processos mais profundos de mudança.  O que se aceita são mudanças superficiais como um emprego novo, um carro ou a prática de yoga ou caminhada.  Todas essas mudanças são bem aceitas desde que não interfiram muito na dinâmica do grupo.  E mesmo assim interfere.  Sempre haverá um ou outro que vai dizer que seu carro novo é isso ou aquilo ou que estamos praticando yoga para fugir da realidade e por aí vai.  É impressionante a necessidade do ser humano atual em ter de rotular o outro.  Para quase todos nós essa prática é fundamental, pois precisamos nos rotular a cada movimento do outro para ter certeza de quem somos.  Quando o outro resolve mudar, resolve também mudar os papéis do grupo todo.  E como é que possível que façamos isso sem pedir a anuência dos outros?  Que ousadia é essa de subverter papéis sem aviso prévio?  Se você resolver fazer isso, ou seja, procurar se autoconhecer e melhorar, prepara-se para ser questionado, agredido e ver muitas caras feias.  Você, então, se dará conta da sua parcela de “tela”.  Muitas são as projeções feitas sobre nós às quais nem imaginávamos.  Eu cansei de ser a tela passiva que só leva tinta pintada pelos outros.  Tenho certeza de que se ou “outros” forem perguntados responderão de que não sou essa tela passiva que se me apresento, mas ao contrário, um pintor que usa tintas fortes nos outros, pintando e sujando as telas alheias ao bel prazer.  Pois é assim mesmo.  Nesse processo de redefinição ou requalificação ou, melhor ainda, de resignificação de si próprio seremos capazes de saber como os outros nos veem.  No meu caso, percebi que me veem de forma diferente do que sou.  Mas será isso possível?  Será que eles não estão certos e estão me vendo como sou de fato.  Parcialmente correto.  Quando passamos a nos movimentar em busca de uma identidade diferente daquela que é a esperada, passamos a puxar o pior das pessoas em nossa direção.  É um movimento de covardia e rebeldia dos outros. Eles não querem que mudemos, pois terão de mudar também e para lugares os quais nem estão preparados e nem queriam de fato. Afinal, quem sou eu para mudar algo em mim sem que todos tenham me autorizado antes?  Como isso incomoda...

Talvez seja essa a dinâmica atual de nossa evolução espiritual.  Pessoas interligadas umas às outras de forma ignorante, sem ter conhecimento desses laços, nem dos porquês.  Apenas sentimos que o movimento do outro nos incomoda.  Qualquer seja esse movimento.  Estamos todos interligados, mas ainda distantes de ficarmos felizes pelo movimento alheio.  O Universo continua em expansão, em constante movimento.  Nós também precisamos desse movimento para trazer e produzir as mudanças necessárias para evoluir.  Como não sabemos exatamente a direção a seguir, vamos, em grande medida, utilizando o método da tentativa e erro.  Como diz a música do Guilherme: “nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar”.

Cansei de ser tela e ver em mim projetadas todas as frustrações que meus movimentos produzem nos outros.  Cansei de ser alvo das tintas de cores muito fortes jogadas em mim, na tela.  Desenvolvi uma carapaça, uma proteção contra esses ataques repressores de minha evolução e acabei deixando a agressividade ficar à tona mais tempo do que necessário.  Convenientemente sou criticado por estar assim. Basta eu mudar para o meu papel de “carneiro-mór”, de doador universal, e todos os gritos se emudecerão, todas as dores se acalmarão.  Deixem-me em paz.  Deixem-me tentar.  Deixem-me mudar.  Porque deixando ou não eu vou fazer isso.  Essa é a minha natureza e a de todos nós, percebendo vocês ou não.

Mano Jone