segunda-feira, 8 de julho de 2013

Brasil, país da esperteza

O Aurélio nos ensina que Esperteza é:
s.f. Qualidade de esperto. / Virtude de clara e fácil penetração espiritual; vivacidade ou agudeza de espírito. / Sutileza, sagacidade, finura, astúcia, manha: a esperteza nem sempre é acompanhada de uma inteligência sistemática.

No Brasil não é preciso um diploma ou uma sólida formação acadêmica para ocupar um lugar digno no mercado de trabalho.  Aqui é preciso ser esperto.  Estamos no país da esperteza, que se manifesta em todos os lugares e ocasiões.  Um grande exemplo é o chamado "jeitinho brasileiro". O que é isso se não um golpe, uma facilidade conseguida por se conhecer alguém mais esperto, um jeito de burlar o que está estabelecido. Leis e regras podem ficar velhas com o passar dos anos, mas aqui se prefere deixar esse emaranhado infindável de leis exatamente para que não possamos entendê-las.  Pouco se faz para atualizar as leis e abre-se espaço para a malandragem.  Um ditado italiano diz algo como "fatta la legge trovato l'imbroglio", ou seja, no momento em que a lei é aprovada se cria a maneira de burlá-la.  Até porque essas leis nascem com as chamadas "brechas".

Aprendemos a mentir desde pequenos como estratégia para esconder um pensamento que é só nosso.  Dessa forma, temos algo que ninguém tem.  Logo depois, descobrimos que a manipulação adequada da mentira pode trazer benefícios.  Alguns se acostumam com essa estratégia e não incluem um código de ética adequado onde a retidão de caráter seja um pilar.  Esses usarão a mentira para sempre.  Quando o caldo da formação do caráter inclui a necessidade de aprovação do outro e uma pitada de narcisismo, está pronto o que convencionamos chamar de "político".  Ou seja, alguém esperto, que sabe manobrar os recursos existentes ou não em favor próprio.  Sempre em favor próprio.  As pessoas que apoiam esse político, também miram em alguma benesse, algum destaque em relação aos reles seres humanos comuns.  Ou seja, eles querem se dar bem, passar na nossa frente sem que nós tenhamos nem sequer a noção de que isso está acontecendo.  São aquelas pessoas que enquanto você aguarda pacientemente no trânsito com seu carro direitinho na fila, eles vêm pelo acostamento passando na sua frente e rindo de que como você é otário e "mole".  São os mesmos que furam qualquer fila. São uns caras-de-pau.
 
Político não defende o povo, mas ao seu projeto particular.  O povo só recebe algo quando esse mesmo político vê ameaçada sua permanência no poder.  O chamado "grupo político" não passa de pessoas reunidas para rirem às nossas custas, nos roubando se necessário, nos excluindo e por aí vai.  Eles são espertos, assim como um ladrão comum, que prepara seu golpe para roubar.  Quando o ladrão além de não ser inteligente, também não é esperto, então ele passa para o assalto a mão armada.  Os ladrões espertos pensam cuidadosamente numa estratégia eficiente e o assaltado só é percebido depois ou, pior, nunca.  Aí estão os estelionatários e outros assemelhados.  Usam da esperteza.  Nesse caso, é até explicável, pois são pessoas que estão à margem da sociedade "normal", mas vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores e presidente não são excluídos, marginalizados.  Então, não há atenuante.

Quantas vezes vemos alguém ser promovido numa empresa sem que tenha condições para tal?  Inúmeras.  A pergunta é sempre a mesma: o que ele tem de diferente?  Em alguns casos, o diferencial é a inteligência, a formação acadêmica, o raciocínio lógico para resolver questões que os outros não veem.  De outro lado, estão os puxa-sacos, os hipócritas, os invejosos, fracos, narcisistas e mentirosos.  Claro que tudo isso vem numa roupagem elegante, não só nos trajes, mas nas palavras e na sensação de que eles poderão resolver todos os problemas.  Aliás, resolver problemas muitas vezes criados por eles mesmos.  Você conhece alguém assim?  Que azar!  Você é assim?  Que sorte, pois você está fazendo a coisa errada num país com uma sociedade que pensa ao contrário, ou seja, você está certo.  E, nós outros, que tentamos fazer tudo como manda a cartilha, somos apenas uns otários a serviço da esperteza alheia.  Somos um estoque a ser usado, como bois pastando hoje e sendo enchurrascados a qualquer momento.

Muitas são as críticas à classe política, mas pense bem se não fazemos parte dessa cultura da esperteza.  Será que os políticos não nos representam mesmo?  Creio que representam a classe dos espertos.  Para mim toda esperteza política é um truque, um lance para desviar nossa atenção e, enquanto olhamos para um lado, o ladrão corre do outro.  O país do futebol, vibra com os dribles mágicos de um craque.  O drible, sinto muito, é um truque para enganar o outro.  Será que nos identificamos com isso?  O craque não quer saber o que ou quem está pela frente, quer apenas atingir seu gol.  Há regras, é verdade, mas são burladas a todo tempo.  O drible mágico deixa o zagueiro no chão, abatido com um touro na arena.  Ele o otário perdedor, o craque o vencedor por ter artimanhas de passar por cima do outro com bola e tudo.  A essa altura alguém pergunta: mas se o escritor deste texto levar tudo por esse lado sobra o quê?  Pois é, sobra muito pouco e é por isso que vivemos num país subdesenvolvido à mercê de espertalhões, que querem ficar sempre no poder para obter suas benesses, nem que isso custe o cerceamento da liberdade alheia.

Martin Luther King disse que não se preocupava com o grito dos maus, mas com o silêncio dos bons. Junho de 2013 parece que alguns bons resolveram sair às ruas para mostrar sua indignação.  Quem observou viu sempre que havia um grupo de baderneiros e vândalos que aproveitavam a situação para benefício próprio, seja eles quais forem.  São os espertos, os oportunistas, que não estão nem aí para o que está acontecendo, mas pensando na sua atuação e como "se dar bem".  Muitos dizem que a bagunça era organizada por partido políticos exatamente para criar um clima favorável para chamar tudo de golpe e fechar o país aos moldes venezuelanos.  Quem se daria bem?  Ora, todos sabemos que não seremos nós, os simples mortais otários, manipulados e alienados.
 
Em todos os lugares do mundo as manifestações populares de massa acontecem na primavera.  A mais recente foi a "Primavera Árabe".  No Brasil aconteceu no inverno, talvez bem adequado à desesperança que nos atordoa.  Os governos, espertos, começam a se mexer para agradar a essas massas populares, pois 2014 é ano de eleição.  A popularidade da presidente caiu para 30%, despencando 27 pontos percentuais em três semanas.  Como disse Ulysses Guimarães, político só tem medo do povo na rua.  É isso mesmo, a única coisa que podemos inspirar na classe política é o medo, porque o respeito jamais teremos.

Mano Jone

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Saudade dos tempos em que as coisas estavam no lugar...

Saudade dos tempos em que as coisas estavam no lugar...  Pelo menos para mim, as coisas estavam lá certas, firmes e fortes.  Meu pai e minha mãe juntos comigo.  De meu pai a saudade.  De minha mãe ainda a dor a ser convertida em saudade.  E assim vou ressignificando a insignificância de minha finitude.
Aí vai o poema "Oito Anos" de Casimiro de Abreu.


Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus
— Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
................................
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Carnaval de Salvador: o declínio

Fevereiro de 2013.  Circuito Barra.  Camarote de altíssimo nível onde durante cinco dias foi servido uísque 12 anos.  Visão privilegiada da rua. Caminhões de trios-elétricos trazendo as mesmas figuras de sempre: os empresários da indústria do carnaval.  Baixa qualidade musical, salvo honrosas exceções.  Músicos excelentes e o som dos caminhões também.  Mas e o povo?  E o pipoca?  E a fila de trios para entrar na avenida?  Graças a Deus estão sumindo.  A visão que tive foi bem agradável: o carnaval ruindo.  Claro que sou voz destoante, pois, na nossa cultura, o carnaval representa muito mais do que uma festa, mas o momento em que (quase) tudo pode ser feito em nome da folia.  As regras são quebradas e as pessoas podem viver algo diferentes nas tais folias momescas.  Até aí, fica um sensação agradável de tudo-poder, sem recriminação, crítica o censura.  Obviamente, a marginália extrapola sempre e ocorrem roubos e furtos, brigas e outras porcarias relacionadas com o baixo nível dos desviantes.  E que ninguém venha defender os bandidos, porque, nós, os de e do bem, somos bem diferentes. Até porque a sociedade precisa manter a marginália como parâmetro de suas virtudes.  Mas essa conversa fica para outra hora.  Voltando à folia, as pessoas bebem, flertam, transam e vamos em frente.  O carnaval me parece o grande rito do acasalamento de uma parcela da sociedade. Mas ficamos aqui sem falsos moralismos e tudo é festa.  Ocorre que o ano não se reduz a cinco, sete ou dez dias.  O circuito da Barra é invadido de caba a rabo por camarotes.  Os trios e seus cordões e cordeiros, apartam os que não pagam caro para pular numa boa com gente bonita.  Os pobres e "feios" ficam no primeiro circuito, incluindo o Campo Grande, a Avenida Sete, Avenida Carlos Gomes e a Praça Castro Alves, antigo templo final do carnaval e o famoso encontro de trios (que no final dos anos 1990 já estava um saco).  Quando não existiam outros circuitos, tudo se passava lá.  Vinha um caminhão, passava, todo mundo pulava na pipoca, se divertia, paquerava, bebia uma cerveja com amigos no meio da rua esperando próximo trio.  Mas a fama foi crescendo pelo Brasil afora...  O carnaval de rua de Salvador, onde as coisas acontecem, foi cada vez mais divulgado, pelos mesmos "barões-do-carnaval" de hoje: Daniela, Chiclete, Ivete, Asa, Eva e outras porcarias mercantilistas, que perceberam um nicho gigantesco de mercado para suas músicas incrivelmente ruins.  Você não concorda?  Respeito sua opinião!  Faça o seguinte teste: lá pelos meados de agosto, coloque em casa um CD do Chicletão e ouça-o inteiro sem dispersar.  Impossível.  A tal música é fabricada para ser pano de fundo para uma multidão "sair do chão".  E o carnaval da Bahia conseguiu piorar o que já era muito ruim com aparição (isso mesmo, coisa de outra mundo) de Psiricos, Xandys, Prangolês e outros lixos.  A mídia local (e nacional) também é dominada pela paixão...  pelo amor... pelo amor ao dinheiro.  Ora, pelo amor de Deus.  Os menos de 10 empresários dessa indústria são os mesmos há 25 anos, tocando o mesmo lixo, mas lucrando muito.  Enfim, e daí, né?  Daí que em função disso, Salvador não faz mais nada.  O carnaval é o câncer que destruiu a cidade, provavelmente a orla mais feia do país.  A Barra, que antes servia de ponto de paquera na rua (tipo rua Augusta em Sampa) e nos bares, hoje fica às moscas e no escuro o ano inteiro.  Há locais que ficam fechados e não são alugados, pois o proprietário ganha mais dinheiro em uma semana do que no ano todo.  Os mafiosos do carnaval fizeram seu lobby e aumentaram o espaço para o carnaval dos ricos.  Os pobres ficam de fora, mas podem ficar nos "animadíssimos" e intermináveis desfiles dos blocos afros.  É a logica do apartheid e da segregação.  E nem adianta vir dizer que é racismo ou discriminação com negros, que não tem nada a ver, pois é discriminação com quem não tem dinheiro.
O carnaval passa como a tal caravana e fica o vazio da espera.  Para mim, felizmente vi um carnaval de 2013 decadente e com os empresários sentindo o golpe.  Já há grandes trios que admitem sair para o pipoca, outros falam em abolir as cordas e por aí vai.  Trata-se da constatação de que a massa de gente tem diminuído e, com ela, os lucros.  Também deve ter gente que quer acabar com tudo para construir prédios.  Não, não é piração minha.  Passava um trio e demorava de vir outro, além disso havia uma rigorosa e multante fiscalização que obrigava os caminhões a andar no horário para não atrasar os outros.  Lindo isso. A folia diária acabava lá pelas 2 ou 3 da manhã.  Quem foi naninha...
O carnaval vai mudar em Salvador, senão vai parar de dar lucro aos de sempre, incluindo os governos.  Alguma coisa esses gênios do marketing farão para perpetuar ou reposicionar a marca.  O processo deve ser o de voltar a atrair massa de gente para a pipoca.  Forma-se a plateia ou o cliente e depois se cobra.  Acho que os empresários vão ter de amargar uma redução de lucro na praça Salvador, porque esse pessoal faz carnaval o ano inteiro no Brasil inteiro e no exterior.  Mas tá cansando o povo...  e daí é que vem a grana.

Sinceramente, espero que o carnaval de Salvador jamais se recupere e morra por um tempo para ressurgir do tamanho exato da folia, seja lá qual for esse tamanho, mas que nele não estejam os industriais que alimentam o câncer que acaba com a cidade.

E como já dizia a música "Cadê o trio" de 1982:

"Se a gente com o trio não pula
A culpa é de quem manipula
E não pula o carnaval".


Mano Jone

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O lucro que mata.

Anderson saiu de casa cedo e enfrentou duas horas de um ônibus péssimo para chegar até a morte.  Trabalhador de uma obra num bairro "nobre" de Salvador, o operário fez o que sempre faz um peão: trabalha duro e a qualquer custo.  Na placa do empreendimento, a propaganda diz que o "Itaigara vai ficar ainda mais charmoso."
Lá pelas onze horas da manhã, uma parede caiu em cima de Anderson e ele morreu.  O evitável aconteceu.  O prédio em que o operário trabalhava não segue nenhuma norma de segurança.  Segue apenas as normas da ganância de algum desprezível empresário, que para obter algum mísero lucro a mais, ignora a vida.  Gente que só consegue olhar o próprio umbigo inchado de lucro podre obtido às custas do trabalho semi-escravo.  Gente que tem certeza de que o sucesso de tudo está em ter mais dinheiro.  Não há como conversar com esse tipo de gente.  Não há diálogo com aquele que faz qualquer coisa por um lucrinho, pois ele corre atrás da satisfação da sua vaidade, das suas fraquezas, da sua ignorância.  O jornal diz que tentou falar com a "assessoria do empreendimento", mas não obteve resposta.  Provavelmente, estão consultando os advogados para que não haja punições aos proprietários.  

A imprensa chegou quase mais rápido do que o SAMU e depois de trinta minutos havia um helicóptero mostrando imagens "ao vivo" para a porcaria do telejornal local.  Onde estavam o CREA, a Prefeitura e os Sindicatos?  Todos pensando em como aumentar as taxas de seus "associados".  Ficam todos calados na certeza de que a morte de um "simples" peão vai ser esquecida ou apenas usada como estatística por alguma entidade de classe para pedir "melhores condições de trabalho".

Amanhã apenas a família lembrará de Anderson.  Amanhã o empresário vai procurar saber como liberar a obra o mais rápido possível.  Amanhã os advogados estarão com as palavras prontas para justificar o injustificável e salvar a pele do cliente.  Amanhã a imprensa se ocupará de outra morte, alimento de todo tipo de urubus.  Amanhã todos nós esqueceremos dessa morte, pois tudo isso passou a ser normal, fato da vida.  No máximo, nos indignamos dizendo "É um absurdo", mas também não fazemos nada.  A indignação só aparece quando atinge um dos nossos.  Os outros que se danem.  É assim que o capitalismo nos transforma em indivíduos sem sentimento e amor ao próximo.  Somos apenas um objeto a ser manipulado e alienado para comprar e dar lucro.  Oxalá chegue o dia em que o materialismo morra e nós nem lembremos dele no dia seguinte.

Mano Jone

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Pequenos Golpes II - Guia Turístico em São Cristóvão - SE

Isso se passou na bela cidade de São Cristóvão em Sergipe no final de 2012.  Atraído pelos apelos históricos fui conhecer a primeira capital do estado e a quarta cidade fundada no país.  Fica bem perto de Aracaju, cerca de 25 quilômetros, com acesso fácil, mas, para variar, com pouca sinalização.

Ao chegar no centro da cidade se vê a semelhança com Salvador ou Lisboa.  As igrejas portuguesas estão no paço principal.  A Igreja Matriz foi construída para os brancos.  A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, só para negros.  Por fim, para o apartheid ser completo, foi construída a Igreja de Nossa Senhora dos Pardos.  A mensagem não podia ser mais objetiva: cada um no seu quadrado. Há, ainda, o terceiro maior museu de arte sacra do Brasil, com 500 peças doadas ou emprestadas.  São obras interessantes e que vale a pena ver.  As igrejas também são interessantes.  Na praça do Cruzeiro também está localizada o convento onde Irmã Dulce fez seus votos e adotou o nome de Dulce (em homenagem à irmã dela).  Enfim, para quem gosta, é possível ver belas igrejas numa cidade que mantem a cultura regional com festas, Reisados  Folguedos,  Bacamarteiros e outras manifestações que devem ser preservadas.

Onde está o problema?  Com a cidade, nenhum.  O golpe fica por conta de alguns desocupados que se ocupam de pegar o seu dinheiro em troca de um serviço desnecessário.  O turista chega e é cooptado por um desses "especialistas".  Naturalmente, por algum trocado, qualquer um quer contratar alguém para indicar e falar sobre as coisas da cidade, das igrejas e o que ocorrer.  Fiz isso para ganhar tempo e conhecimento e entrei pelo cano.  O tal "guia" foi muito simpático e me levou para a primeira igreja da tarde.   Antes ele fez uma relação de igrejas, mas aconselhou o roteiro.  Ao entrar na igreja havia uma guia da própria prefeitura, que dava todas as informações sobre aquela igreja e de graça.  Enquanto isso, o guia disse que ia pedir para Dona Miriam para abrir a casa para vermos seu famoso presépio.  Lembrei de Gabriela, Cravo e Canela e o presépio montado pelas duas irmãs solteironas e megeras.  De repente, aparece o guia.  Impressiona como ela sabe o tempo que vai durar a visitação na igreja.  Dali, seguimos para a casa da simpática Dona Miriam, que todos os anos faz um presépio diferente, digamos, temático.  Muita conversa "de interior" e o guia sentado na sala de estar da senhora de 92 anos (segundo o guia, mas eu achei que uns 72 tava bem dado).  Na saída, uma ingênua caixinha de papelão pedia uma ajuda para manter o presépio.  Diante de tanto calor humano, achei justo colocar R$20,00 (+/- US$10.00) naquela caixa.  O guia, preguiçoso, não queria mais sair do sofá.  Eu calmamente pensando que tudo está equacionado na cabeça do experiente guia.  E estava, mas para ele, não para mim!  Saímos dali e fui levado para o convento onde Irmã Dulce fez os votos.  Na entrada, uma pequena cantina, que o guia recomendou fortemente que eu consumisse algo lá.  O guia me largou na frente da igreja e pediu para um outro não-sei-quem me explicar "as coisas".  Esse último ficou comigo uns bons 3 minutos e "me deixou à vontade".  Traduzindo: o sujeito me largou no meio de uma igreja sem me explicar nada e foi atender aos fregueses que queriam sorvete no balcão.  Olhei um pouco para cima, um pouco para o lado, andei um pouco e acabei tomando um sorvete.  Quando coloquei o pé na rua o guia surge do nada.  Na prática o descarado estava sentado no pé de uma árvore esperando o otário sair da igreja.  Ainda deu para notar uma argola presa ao lado da porta da igreja, onde se amarravam escravos rebeldes.  Ah! santa igreja...  O guia logo me levou para o próximo ponto turístico imperdível, que fica a uns cinquenta metros da igreja que saí.  Aliás, tudo fica em volta da mesma praça.  O atento guia me levou até a porta da Igreja de São Francisco, onde fui recepcionado por outra guia da prefeitura, que me explicou tudo em detalhes e de graça.  Ao colocar o pé fora da igreja, quem estava lá me esperando?  O guia.  Ele me levou até o museu de arte sacra.  Talvez eu não conseguisse sair de uma porta andar 15 metros e entrar em outra porta.  No museu, uma pequena taxa, ganhei um livro e fui acompanhado por uma guia.  Bem, no meio apareceu um grupo, ela me largou falando sozinho e um sujeito preguiçoso veio com o mesmo papo furado de "me deixar à vontade".  Eu disse a ele que não queria ficar à vontade sozinho, mas ele tinha de vir comigo me explicar aquela enormidade de peças e detalhes.  A contragosto o preguiçoso veio.  Bem, saí do museu e apareceu o guia.  Pedi para ir até a igreja matriz.  O vagabundo me disse que a igreja fechava às quatro horas.  Já eram quatro horas.  Entrei no carro e voei para ver se achava alguma igreja aberta.  Todas fechadas.  O descarado do guia estava no meu carro quando eu descasquei minha raiva em cima dele.  Larguei ela na praça e ainda dei R$15,00, porque nunca se sabe se uma pedra ou sei lá o que pode vir atrás de um descontentamento de um guia vagabundo.

Conclusão: fui enganado por um preguiçoso, descarado e vagabundo que tem participação na caixinha do presépio cafona de Dona Miriam e no barzinho-inho-inho da igreja.  Ele me atrapalhou e acabei sem ver a igreja matriz e a dos "pardos".  Você que vai para aquela bela cidade, faça um favor a si mesmo: faça tudo sozinho.  Recuse veementemente qualquer ajuda, pois é absolutamente desnecessária.

Mano Jone

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Pequenos Golpes I – Posto de Gasolina

O motorista necessitado leva seu carro para encher o tanque. Enquanto o incauto motorista aguarda, o simpático frentista pede para “ver a frente” ou, num gesto de generosidade e profissionalismo ele quase lhe ordena: “abra a frente para eu colocar a água do vidro”. Quem recusaria tamanha gentileza e preocupação gratuita? O satisfeito motorista relaxa, enquanto o frentista coloca a tal água e, ainda mais preocupado, vai verificar o nível do óleo. Ele deixa o capô do seu carro aberto e vem lhe informar, quase como um lamento, que “o óleo tá baixo”. O motorista, agora preocupado, consente que seja colocado óleo para salvar seu carro. Afinal, se não fizer isso pode ter um prejuízo ainda maior. O motorista contente paga o combustível e o óleo e sai aliviado.

Na verdade o frentista quebrou sua resistência ao ser gentil e conseguiu que o motorista abrisse feliz o capô do veículo. O que o frentista queria não era lhe ajudar em nada, mas aplicar o famoso golpe do óleo. Sempre que se mede o nível do óleo com o motor quente, ele estará abaixo do nível, pois o óleo está espalhado pelo motor fazendo seu papel de lubrificante. Óleo se mede com o motor frio e num terreno plano. Enfim, o golpe é simples e dado centenas de vezes por dia em todo o país. Como o nível estará baixo, o frentista, que ganha comissão por vender o óleo, vai lhe sugerir uns 2 litros. O excesso será queimado pelo motor e pode até sai uma fumacinha branca pelo escapamento. O óleo deve ser trocado periodicamente e não apenas ser “completando”.

O frentista lhe engana, lhe aplica um golpe de “esperteza”. Assim como tantos outros que se apresentam gentis e solícitos para enganar e pegar o seu dinheiro.
Mano Jone