segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Pequenos Golpes II - Guia Turístico em São Cristóvão - SE

Isso se passou na bela cidade de São Cristóvão em Sergipe no final de 2012.  Atraído pelos apelos históricos fui conhecer a primeira capital do estado e a quarta cidade fundada no país.  Fica bem perto de Aracaju, cerca de 25 quilômetros, com acesso fácil, mas, para variar, com pouca sinalização.

Ao chegar no centro da cidade se vê a semelhança com Salvador ou Lisboa.  As igrejas portuguesas estão no paço principal.  A Igreja Matriz foi construída para os brancos.  A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, só para negros.  Por fim, para o apartheid ser completo, foi construída a Igreja de Nossa Senhora dos Pardos.  A mensagem não podia ser mais objetiva: cada um no seu quadrado. Há, ainda, o terceiro maior museu de arte sacra do Brasil, com 500 peças doadas ou emprestadas.  São obras interessantes e que vale a pena ver.  As igrejas também são interessantes.  Na praça do Cruzeiro também está localizada o convento onde Irmã Dulce fez seus votos e adotou o nome de Dulce (em homenagem à irmã dela).  Enfim, para quem gosta, é possível ver belas igrejas numa cidade que mantem a cultura regional com festas, Reisados  Folguedos,  Bacamarteiros e outras manifestações que devem ser preservadas.

Onde está o problema?  Com a cidade, nenhum.  O golpe fica por conta de alguns desocupados que se ocupam de pegar o seu dinheiro em troca de um serviço desnecessário.  O turista chega e é cooptado por um desses "especialistas".  Naturalmente, por algum trocado, qualquer um quer contratar alguém para indicar e falar sobre as coisas da cidade, das igrejas e o que ocorrer.  Fiz isso para ganhar tempo e conhecimento e entrei pelo cano.  O tal "guia" foi muito simpático e me levou para a primeira igreja da tarde.   Antes ele fez uma relação de igrejas, mas aconselhou o roteiro.  Ao entrar na igreja havia uma guia da própria prefeitura, que dava todas as informações sobre aquela igreja e de graça.  Enquanto isso, o guia disse que ia pedir para Dona Miriam para abrir a casa para vermos seu famoso presépio.  Lembrei de Gabriela, Cravo e Canela e o presépio montado pelas duas irmãs solteironas e megeras.  De repente, aparece o guia.  Impressiona como ela sabe o tempo que vai durar a visitação na igreja.  Dali, seguimos para a casa da simpática Dona Miriam, que todos os anos faz um presépio diferente, digamos, temático.  Muita conversa "de interior" e o guia sentado na sala de estar da senhora de 92 anos (segundo o guia, mas eu achei que uns 72 tava bem dado).  Na saída, uma ingênua caixinha de papelão pedia uma ajuda para manter o presépio.  Diante de tanto calor humano, achei justo colocar R$20,00 (+/- US$10.00) naquela caixa.  O guia, preguiçoso, não queria mais sair do sofá.  Eu calmamente pensando que tudo está equacionado na cabeça do experiente guia.  E estava, mas para ele, não para mim!  Saímos dali e fui levado para o convento onde Irmã Dulce fez os votos.  Na entrada, uma pequena cantina, que o guia recomendou fortemente que eu consumisse algo lá.  O guia me largou na frente da igreja e pediu para um outro não-sei-quem me explicar "as coisas".  Esse último ficou comigo uns bons 3 minutos e "me deixou à vontade".  Traduzindo: o sujeito me largou no meio de uma igreja sem me explicar nada e foi atender aos fregueses que queriam sorvete no balcão.  Olhei um pouco para cima, um pouco para o lado, andei um pouco e acabei tomando um sorvete.  Quando coloquei o pé na rua o guia surge do nada.  Na prática o descarado estava sentado no pé de uma árvore esperando o otário sair da igreja.  Ainda deu para notar uma argola presa ao lado da porta da igreja, onde se amarravam escravos rebeldes.  Ah! santa igreja...  O guia logo me levou para o próximo ponto turístico imperdível, que fica a uns cinquenta metros da igreja que saí.  Aliás, tudo fica em volta da mesma praça.  O atento guia me levou até a porta da Igreja de São Francisco, onde fui recepcionado por outra guia da prefeitura, que me explicou tudo em detalhes e de graça.  Ao colocar o pé fora da igreja, quem estava lá me esperando?  O guia.  Ele me levou até o museu de arte sacra.  Talvez eu não conseguisse sair de uma porta andar 15 metros e entrar em outra porta.  No museu, uma pequena taxa, ganhei um livro e fui acompanhado por uma guia.  Bem, no meio apareceu um grupo, ela me largou falando sozinho e um sujeito preguiçoso veio com o mesmo papo furado de "me deixar à vontade".  Eu disse a ele que não queria ficar à vontade sozinho, mas ele tinha de vir comigo me explicar aquela enormidade de peças e detalhes.  A contragosto o preguiçoso veio.  Bem, saí do museu e apareceu o guia.  Pedi para ir até a igreja matriz.  O vagabundo me disse que a igreja fechava às quatro horas.  Já eram quatro horas.  Entrei no carro e voei para ver se achava alguma igreja aberta.  Todas fechadas.  O descarado do guia estava no meu carro quando eu descasquei minha raiva em cima dele.  Larguei ela na praça e ainda dei R$15,00, porque nunca se sabe se uma pedra ou sei lá o que pode vir atrás de um descontentamento de um guia vagabundo.

Conclusão: fui enganado por um preguiçoso, descarado e vagabundo que tem participação na caixinha do presépio cafona de Dona Miriam e no barzinho-inho-inho da igreja.  Ele me atrapalhou e acabei sem ver a igreja matriz e a dos "pardos".  Você que vai para aquela bela cidade, faça um favor a si mesmo: faça tudo sozinho.  Recuse veementemente qualquer ajuda, pois é absolutamente desnecessária.

Mano Jone

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