sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Onde está o nosso tempo? Tempos modernos e de modernidade líquida.

Hoje vivemos num tempo diferente.  Um tempo sem tempo.  Somos localizados pelo celular, pelas tais redes sociais, e-mails e outras tantas "modernidades".  De fato, alguns desses apetrechos são bem úteis, como o telefone celular, por exemplo, se você estiver numa situação de perigo ou precisando de ajuda.  Antes do celular, quando o carro quebrava numa madruga, o motorista tinha de sair andando atrás de algum posto de gasolina ou orelhão.  E se estivesse chovendo...   Enfim, nem tudo que muda é ruim, mas as mudanças talvez estejam rápidas demais, nos fazendo sentir cada vez mais sem tempo, ou cada vez mais com menos.  Isso aumenta o vazio e o desejo de preenchê-lo.  Zygmunt Bauman introduziu o conceito de "liquidez" nas relações sociais e disse que "vivemos tempos líquidos, nada é para durar".  Ele também fala do "amor líquido", onde quem hoje é ideal, amanhã pode ter sido deletado da lista de "amigos" das redes sociais.  Apaga-se a pessoa e as relações correspondentes.  Os tempos sõ de transformações rápidas, o que nos faz sentir lentos e nos faz correr contra uma sensação de que se está perdendo tempo, negócios, amigos, vida.

O sorriso podre do capitalismo fica estampado em sua carcaça repugnante.  Ri da nossa corrida para comprar a modernidade, que amanhã será velha.  Aparelhos e serviços que serão obsoletos cada vez mais rápidos.  O conceito de marketing de criar a obsolescência programada é algo que se usa há muito tempo para que os nossos carros, televisores, computadores, celulares e tudo o mais  sejam vistos como velhos.  Inclusive as pessoas.  Não se fica idoso, mas velho.  E o velho é inútil e para ser jogado fora.  A pessoa que se aposenta se torna velho e obsoleto para o dragão capitalista (ou seria a Grande Prostituta do livro do Apocalipse), pois não produz mais.  Troca-se por alguém que produza e gere lucro.  Só que isso vem acontecendo cada vez mais rápido e com todas as coisas.  A obsolescência nem mais é tão programada assim, pois vem muito mais rápido do que se possa programá-la.  A modernidade está ficando obsoleta ou é a própria obsolescência?

Transformações rápidas, modernidade liquefeita traz o tempo-do-mínimo-tempo fazendo com que essa pressa toda quebre quaisquer regras básicas de convivência mais adequada, fina e educada.  Essa pressa faz com que pessoas ansiosas demais e com medo demais de seus vazios, atendam e falem, através de seus modernos telefones celulares no meio de uma peça de teatro ou de um almoço em família.  Não se pode perder nenhuma oportunidade de preencher o vácuo criado pelas extensas e fantasiosas redes sociais.  Naquela uma hora e meia de uma peça de teatro ou de um filme no cinema, pode ser que a pessoa receba aquela ligação que ela nem esperava, mas que seu telefone toque e que se fale ou mande uma mensagem imediatamente após receber.  A demora nesse tipo de comunicação gera ansiedade e sensação de rejeição, caso a resposta demore muito.  Imagine se a resposta não vier ou se o telefone não tocar numa ligação que não se esperava, seja lá de quem for.  A partir daí o indivíduo atende ao celular no teatro ou outros olham incomodados com ele ou porque os próprios celulares não tocaram?  Os outros reclamam por atrapalhar a peça ou porque o outro recebeu uma ligação e eles não?  Não se pode generalizar, apesar desse ser o desejo capitalista, assim os custos caem na produção com economia de escala.

Essa pressa toda, se for bem refletida só serve, penso eu, para que possamos valorizar mais o nosso tempo presente, usufruindo dos dias como esses fossem únicos, ou poucos, ou líquidos...  Inversamente, esse tempo curto, essa pressa desmedida nos arranca do presente e nos joga no futuro, onde estão as coisas que saciarão nossos desejos e vazios.  Daí só nos resta a ansiedade, as relações frouxas e somente de troca.  A amizade passa a ser uma mercadoria e pode ser trocada, vendida, jogada fora se ficar velha ou, então, o amigo não tenha mais nada para nos dar.  Haja antidepressivos para enganar as mentes e enriquecer laboratórios!  Haja paciência e fé!  E que haja um vazio qualquer para poder entrar e deixar o tempo de cada um fluir de acordo com seu relógio mental, espiritual ou material.

Lembrei desta música do Barão Vermelho:


Pense e dance
Barão Vermelho

Penso como vai minha vida
Alimento todos os desejos
Exorcizo as minhas fantasias
Todo mundo tem um pouco de medo da vida

Pra que perder tempo desperdiçando emoções
Grilar com pequenas provocações?
Ataco se isso for preciso
Sou eu quem escolho e faço os meus inimigos

Saudações a quem tem coragem
Aos que tão aqui pra qualquer viagem
Não fique esperando a vida passar tão rápido
A felicidade é um estado imaginário

Não penso em tudo que já fiz
E não esqueço de quem um dia amei
Desprezo os dias cinzentos
Eu aproveito pra sonhar enquanto é tempo

Eu rasgo o couro com os dentes
Beijo uma flor sem machucar
As minhas verdades eu invento sem medo
Eu faço de tudo pelos meus desejos

Saudações a quem tem coragem
Aos que tão aqui pra qualquer viagem
Não fique esperando a vida passar tão rápido
A felicidade é um estado imaginário

Pense e dance
Pense
Pense e dance


Então, pense e não dance!

Mano Jone

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